Este é o tipo de post que eu gosto de escrever, pois joga no ventilador temas considerados como tabus, alimentados pela velha hipocrisia, e que mostram como a sociedade e a "nova escola" estão se unindo para resolver essas aberrações. E que quando a mídia quer produzir algo de qualidade e capaz de mudar paradigmas, consegue com relativa facilidade.
Reuni três assuntos correlatos que você não vai ver no Jornal Nacional e quetais, que falam sobre sexualidade de forma clara, objetiva e produtiva (não fazer trocadilhos com reprodutiva, per favore!), integralmente útil na sociedade em nível planetário.
Masturbação na nova escola - o prazer está em suas mãos
Por "nova escola" entenda-se instituições de ensino que resolveram sair do marasmo educacional e da mentalidade exclusivamente de captação financeira para atuar como espaços de transformação e amadurecimento de crianças, jovens e adultos, trazendo um mundo melhor como consequência.
Na Espanha, um novo curso escolar que ensina masturbação a jovens de 14 aos 17 anos está provocando polêmica entre pais e educadores (óbvio!). Ele faz parte de um programa introduzido pelas Secretarias de Educação e Juventude da província de Extremadura (não me levem a mal, mas tenho que rir da coincidência) e intitulado "O prazer está em suas mãos", com o objetivo de acabar com mitos para que os adolescentes entendam a sexualidade de forma natural.
As aulas sobre sexo serão facultativas nas escolas de ensino médio da província de Extremadura, que fica na região oeste da Espanha, a partir de novembro e os conteúdos vão de anatomia e fisiologia sexual masculina e feminina até técnicas de masturbação e uso de objetos eróticos.
Para a secretária de Juventude de Extremadura, Laura Garrido, o novo curso não deveria escandalizar a ninguém, principalmente porque todos nós fomos adolescentes algum dia e todos nós temos sexualidade. Consciente das críticas de grupos de pais de alunos e veículos de comunicação conservadores, que classificaram a atividade escolar de imoral e irresponsável, a secretária disse à BBC Brasil que "resumir tudo em uma polêmica sobre como sentir prazer é uma barbaridade".
"O programa tem muitos mais aspectos, como hábitos saudáveis, autoestima, afetividade, identidade de gênero, doenças de transmissão sexual... e esperamos derrubar muitos mitos negativos sobre a masturbação, é óbvio".
A Secretaria de Educação de Extremadura elaborou 1.200 livros em formato revista com exemplos de dúvidas habituais de adolescentes sobre o tema e as respectivas respostas de educadores e sexólogos. O material didático das aulas inclui mapas da anatomia humana, explicações sobre tipos de brinquedos eróticos, endereços úteis e até um baralho que coloca os jogadores em exemplos de situações de risco como uma ereção prolongada ou uma infecção genital, para que saibam como resolver os problemas.
Os slogans do curso escolar - "O prazer está em suas mãos" e "Prazer quando e onde você quiser" - foram aprovados pelo Instituto da Mulher de Extremadura (ONG que reúne associações feministas locais), porque consideram as aulas necessárias para que os jovens entendam que o sexo não é apenas um ato físico.
"Se esse curso conseguir que os nossos filhos se desenvolvam através de uma sexualidade saudável, será mais fácil evitar condutas discriminatórias e agressivas em suas relações", disse à BBC Brasil a diretora geral do Instituto da Mulher, Maria José Pulido, que continua dizendo que "é importante que pais e educadores possam tratar a sexualidade como um comportamento, uma expressão afetiva e de saúde também".
Mas nem todos os pais de alunos estão de acordo. A Associação de Pais Católicos de Extremadura formou um grupo de protesto chamado "Cidadania para a Educação" e ameaça levar o governo regional aos tribunais. O grupo abriu um fórum de debate na Internet e enviou uma carta ao governador local reclamando do novo curso escolar. "Exigimos ser informados previamente da natureza, do conteúdo e da orientação de toda atividade que tenha alguma implicação de caráter moral, porque somos os primeiros e principais educadores de nossos filhos", diz a carta.
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Aqui, uma pequena pausa:
Não é de surpreender que tenha sido exatamente uma "associação católica" a entrar em cena querendo impedir a continuidade do curso, visto que foram "curriolas" exatamente como essa que tentaram impedir a implantação de mudanças em todos os níveis ao longo da História. Mas nessa eu penso que mais uma vez vão se dar mal, pois ao levarem a consulta para a Internet, terão que enfrentar a opinião da maioria, que não segue as "gaiolas dogmáticas católicas de pensamento" e já não tem mais que temer as fogueiras e outros tipos de humilhações e torturas que essa "simpática religião" promoveu ao longo do mundo.
Retornando ao post:
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A presidente da associação, Margarita Cabrer, disse à BBC Brasil que ainda não recebeu resposta do governo e que o grupo de pais estuda vias legais para processar o Estado se o curso continuar até o fim do ano letivo (junho de 2010).
"O problema não é o ensino de masturbação. Não me preocupa que meus filhos se masturbem. O que me preocupa é que um adulto, cujos hábitos e valores morais eu desconheço, seja quem ensine os meus filhos a fazê-lo", afirmou.
Cabrer disse também que espera uma intervenção imediata do Juizado de Menores de Extremadura, porque acha que o curso pode infringir o código penal nos artigos sobre corrupção de menores. A assessoria de imprensa do Juizado de Menores de Extremadura não quis fazer comentários sobre o assunto à BBC Brasil.
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Nova pausa, perdoem o inconveniente:
A senhora supra citada preocupa-se com o fato de ser "um adulto, cujos hábitos e valores morais eu desconheço, seja quem ensine os meus filhos a fazê-lo". Mas será que ela, algum dia, cogitou ensinar seus filhos a se masturbarem? Ou a encarar o sexo como uma atividade normal, prazerosa, cidadã etc? Penso que não.
Retornando ao post:
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Exploração sexual em debate na tv
O assunto a seguir é igualmente importante e tem como fator de destaque estar sendo transmitido pela televisão. Infelizmente, é pelo canal Futura, que embora excelente, não tem muito poder de penetração (!) na sociedade de um modo geral. Inseri aqui porque, além de ser pertinente ao tema geral do post, envolve um campo de trabalho para designers.
Um problema que atinge milhões de meninos e meninas no mundo todo, fruto da falta de fiscalização, combate ineficiente e da desinformação da sociedade, ganha destaque na televisão. A série de animação "Que exploração é essa?", parceria entre o canal Futura e a ONG Childhood Brasil (WCF-Brasil), flagra situações de prostituição, abuso de poder e aliciamento de menores.
Os protagonistas, um pai caminhoneiro e seu filho adolescente, fazem uma viagem juntos em que cada parada, seja no restaurante, no hotel, na praia ou no cybercafé, revela exemplos de como a exploração pode acontecer. A trama de ficção, composta de bonecos animados, é intercalada com depoimentos de especialistas e autoridades que falam sobre a real gravidade do problema e da importância de enfrentá-lo coletivamente a partir da sensibilização da sociedade como um todo.
Camilla Gonzatto, diretora do programa, ressalta o desafio de tratar de forma lúdica um assunto tão sério: “Nosso empenho foi para que os programas não ficassem pesados e também as crianças pudessem assistir. Para criar um verdadeiro mundo de bonecos usamos algumas técnicas, como manter um enquadramento de câmera que simulasse atores reais. Pontuar momentos mais leves e divertidos, com depoimentos sérios, também foi uma forma de garantir uma narrativa adequada ao público”, destacou.
Para Flávia Garcia, da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (ANCED), o problema da exploração sexual está muito ligado à dominação e ao poder. “Podemos pensar em várias situações ligadas à dominação de gênero e exclusão social. A relação desigual de poder sempre está presente”, ressalta.
Abaixo, algumas chamadas do programa, que vai ao no canal Futura aos sábados, às 20h20, e aos domingos, às 17h20, com reprise segundas-feiras, às 21h20.
Pulseiras do Prazer
Quando clippei essa notícia, vi logo que uma chamada do texto perguntava, em tom apocalíptico: "É o fim da infância?". Nenhuma surpresa, visto que a mídia é isso aí mesmo. Mas fiquei lembrando de meus tempos infantis e juvenis, quando brincava com as meninas de "pêra, uva e salada mista" (os mais anciãos saberão do que estou falando) e isso nunca perverteu a nenhum de nós, muito pelo contrário.
Mas vamos à notícia, para encerrar esse post. Virou moda entre as meninas britânicas o uso de pulseiras de plástico coloridas, apelidadas de shag bands (pulseiras do sexo, em tradução-livre). Cada cor representa um ato afetivo ou sexual que, em teoria, a meninas precisariam fazer caso um menino consiga arrebentar a pulseira. Esses atos vão desde um inocente abraço até o sexo oral e relações sexuais completas.
A moda está causando enorme polêmica entre pais e professores e chegou até a secretaria da Criança do país. Algumas escolas já proibiram o uso depois de identificar meninas de oito anos usando as pulseiras.
Muita gente acha que se trata apenas de brincadeira de criança, que as pulseiras não significam que as meninas irão realmente fazer o que as cores determinam e que jogos com fundo sexual não são novidade entre as crianças. Quem nunca brincou de pega-pega em que o menino dá um beijinho na menina?
Por outro lado, há quem acredite que a prática expõe crianças pequenas a termos sexuais que elas não conheceriam de outra forma e promove a erotização infantil. Há também o temor de que proibir as pulseiras só vai torná-las mais desejáveis.
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A esse respeito, eu defendo que as crianças sejam orientadas de forma clara e objetiva sobre o que estão fazendo, pois todos sabemos da existência de indivíduos desequilibrados mentalmente que se aproveitam de qualquer motivo para molestá-las.
Já as adolescentes, que possuem informação e maturidade sexual suficiente para entender o que estão fazendo (mesmo que em níveis inferiores ao de um adulto, óbvio!), não usariam um indicativo tão claro sobre seus desejos se esses não existissem. Nesse caso, também defendo a orientação clara e objetiva, mas em hipótese alguma a proibição das pulseiras. Cada um de nós tem que aprender, o mais cedo possível, a ter responsabilidade em nossas relações interpessoais. E não é com proibições, censuras, torturas ou bulas papais que as pessoas evoluem, muito pelo contrário.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
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