quarta-feira, 1 de abril de 2009

A Normose e a construção dos Avatares

Apesar de hoje ser o Dia da Mentira, o post a seguir é sobre um assunto sério e verdadeiro.

Recebi um e-mail nesta madrugada sobre uma "doença" chamada Normose. Imediatamente identifiquei o contexto com a representação da maioria dos avatares do Second Life. Vejam o texto atribuído ao Psicoterapeuta, Dr.Michel Schimidt, sobre o assunto:

"Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.

A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas? Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.

A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Então, como aliviar os sintomas desta doença? Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.

Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada. Por isso divulgue o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
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Concordo com o texto e há muito venho falando a respeito, mas como já era de se esperar, a compreensão alheia sobre a existência e os efeitos deste sistema de controle ainda engatinha. No Second Life, a construção dos avatares obedece a critérios subjetivos e grande parte deles são profundamente influenciados pelas pressões psicológicas da vida física em termos de aparência.

Basta uma rápida navegada para perceber a quantidade de homens e mulheres (avatares) com aparência de desfile de moda. Os caras são tatuados, brozeados, fortões. As meninas, peitudas, bundudas e com marquinha de biquini. Quase ninguém é gordo ou tem aparência de mais velho. Nestes quase 3 anos de residente, vi apenas meia dúzia de avatares pretos. Será que só tem gente branca acessando o metaverso? Eu acho que a realidade é algo muito pior...

Nada contra você criar uma imagem que se assemelhe com a sua. Muito menos se você usa a edição do avatar para assumir uma forma que gostaria de ter (por mais estranha que possa parecer para os outros). Se é o seu desejo ser daquele jeito, seja! A forma mais "comum" do meu avatar se parece comigo, com itens que foram retirados da minha aparência quando criança. Ele é usado quando preciso lidar com pessoas que tem dificuldade de entender o que exatamente seja um metaverso e que precisam ser convencidas de que aquilo não é um "joguinho de computador".

Mas tenho formas menos convencionais que uso quando me dão vontade, como uma formiga, um anjo (arcanjo, na verdade), um pequeno dirigível, um dragão humanóide e até o esqueleto de uma baleia (!), dentre outros.

Dois professores que conheço e admiro possuem avatares bem diferentes: Maurício Garcia, da Vestibular Brasil, construiu seu avatar, Mgar Magneto como um cara gordo, de barbicha e usando roupas esfarrapadas, quando que na RL é esguio, atleta e se veste elegantemente. E Carlos Valente, da Polivalente, criou um palhaço (Carlos Kupferberg) inspirado no filme Patch Adams e pelo seu sonho de fazer pela Educação o que o americano fez pela saúde em seu país.

Em ambos os casos, o desejo por detrás da formatação foi o de criar uma identidade particular, foi sair do ilusório "limbo coletivo" que os meios de comunicação atiram os cidadãos. E foram muito bem sucedidos.

Que tal você, que anda por aí com seu avatar parecendo uma marombeira-de-academia-verdadeira-mulher-travesti-com-piercing-cabelo-pintado-e-tatuagens-sempre-nos-mesmos-lugares experimentar a emocionante experiência de ser você mesma, independente de ser preta, gorda ou com o cabelo cacheado na RL?

O mesmo vale para os garotões com visual Hércules-de-academia-e-bad-boy-de-jiu-jitsu. Não tem nada de errado em ser magrinho ou baixinho, careca ou míope, desde que você seja uma pessoa agradável. Ter o visual da moda (sic) e não ter nada de cativante por dentro só garante decepções.

Ou você acha que as louras de farmácia que ficam arrastando corrente por aí sozinhas, estão à deriva por qual motivo?

Aqueles que já participaram de encontros RL de usuários do Second Life percebem logo de cara duas coisas:

- Salvo raríssimas exceções, NENHUM avatar se parece com sua contraparte física

- Aqueles que nos conheceram no ambiente virtual e gostaram de nós pelo que apresentamos (desconsiderando aí, o visual do avatar), continuam gostando de nós, desde que tenhamos sido sinceros sobre como somos interiomente.

Sermos nós mesmos, de verdade, pode ser melhor do que se imagina, independente se virtualmente nos parecemos com uma formiga ou um dragão.

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