terça-feira, 20 de abril de 2010

Série Especial - A Dimensão Humana (05): Chefes ruins e a Felicidade Interna Bruta





Nosso post de hoje vai focar em dois aspectos muito importantes e que sempre foram deixados meio de lado, quase como se fosse uma superstição. Felizmente os avanços da Ciência estão revelando fatos importantes sobre a Humanidade e promovendo a mudança de paradigmas. Talvez, em poucos anos, o conceito de "ócio criativo" venha a ser ensinado nas escolas, que já não serão mais aquelas masmorras tenebrosas onde as pessoas aprendem a decorar conteúdo e esquecer o que é ser criativo e ter iniciativa, dentre outras qualidades.
Liderança doente
O primeiro assunto é sobre aquela figura já folclórica que tem a fama de atormentar as pessoas ao seu redor: o chefe! A percepção que um trabalhador tem a respeito de seu chefe como sendo um mau líder não apenas aumenta a incidência de faltas ao trabalho por problemas de saúde, como também leva a um maior risco de doenças entre esses trabalhadores no decorrer da sua vida.
Uma pesquisa demonstrou que, quanto mais tempo uma pessoa trabalha com um chefe ruim, mais elevado é o seu risco de sofrer um ataque cardíaco nos próximos 10 anos. O estudo foi feito no Instituto Karolinska, uma das principais instituições científicas da Suécia.
A pesquisa baseou-se em dados de mais de 20.000 trabalhadores nas mais diversas áreas, de escritórios e hotelaria à construção civil e madeireiras. A pesquisa incluiu empresas da Finlândia, Alemanha, Polônia e Itália, assim como grupos representativos da população e da indústria da Suécia.
Os pesquisadores compararam níveis de estresse relatado pelos trabalhadores, indicadores de saúde, faltas ao trabalho por doença e exaustão emocional. Esses dados foram cruzados com a percepção que os trabalhadores tinham da liderança dos seus chefes em termos de critérios positivos e negativos, tais como atuação inspiradora, apoio e capacidade de delegação, de um lado, e autoritarismo, desonestidade e distanciamento, do outro. Os pesquisadores também procuraram pelos efeitos do estilo de liderança sobre a mudança de emprego, demissão por problemas de saúde ou simplesmente ficar desempregado.

Uma das pesquisas examinou a correlação entre como os funcionários avaliavam seus chefes e o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares graves num período de até 10 anos depois do início da pesquisa. Eles descobriram que os trabalhadores homens apresentam um risco 25% maior de sofrer infarto do miocárdio durante o período de 10 anos de acompanhamento quando, no início da pesquisa, eles demonstraram "desprazer" em trabalhar com seus chefes.
Um instituto de pesquisas da Grã-Bretanha emitiu uma série de recomendações aos empregadores do país a fim de proteger a saúde mental dos funcionários e, assim, diminuir o prejuízo causado por problemas como estresse e ansiedade no ambiente de trabalho.
De acordo com o Nice (National Institute for Health and Clinical Excellence), a postura negativa dos chefes representa o maior risco à saúde mental dos trabalhadores.
O Nice, entidade que avalia remédios e ajuda a definir as diretrizes da saúde na Grã-Bretanha, disse que doenças mentais associadas ao trabalho custam ao país o equivalente a mais de US$ 46 bilhões por ano. Além disso, mais de 13 milhões de dias de trabalho são perdidos por ano na Grã-Bretanha por causa de estresse, ansiedade e depressão.
Entretanto, o instituto disse que medidas simples poderiam reduzir em um terço o prejuízo.
As medidas incluem comentários positivos do chefe após um trabalho bem feito, horários de trabalho mais flexíveis e mais dias de folga como recompensa por bom desempenho. O Nice recomendou também que os empregadores britânicos invistam em treinamento para gerentes e chefes e em aconselhamento para funcionários a fim de ajudá-los no desenvolvimento de suas carreiras.

Para convencer as empresas britânicas a agir, o Nice criou uma espécie de fórmula que mostra ao empregador quanto ele pode economizar se der mais apoio ao seu funcionário.
Segundo a fórmula, uma empresa com cerca de mil empregados economizaria mais de US$ 400 mil por ano.
O especialista em psicologia do trabalho Cary Cooper, da Universidade de Lancaster, no norte da Inglaterra, ajudou a redigir as recomendações do Nice. "Você não pode superestimar a importância de se dizer 'muito bem!' a um funcionário, mas frequentemente isso não acontece", disse Cooper. "O chefe diz quando você está fazendo algo errado, mas não quando você está acertando."

Segundo uma pesquisa feita por outro instituto britânico, o Chartered Institute of Personnel and Development, um quarto dos trabalhadores descreveu sua saúde mental como moderada ou ruim, mas quase todos continuaram a trabalhar normalmente. O relatório do Nice diz que o ambiente certo no local de trabalho não só pode reduzir custos como trazer resultados positivos, oferecendo estabilidade, amizade, distração e sentido à vida do trabalhador.
Um porta-voz da Confederação das Indústrias Britânicas disse: "A saúde mental dos funcionários é algo que as empresas vêm priorizando".
Cheiro de limpeza torna as pessoas mais justas e generosas
As pessoas são inconscientemente mais justas e mais generosas quando estão em ambientes com cheiro de limpeza, de acordo com uma pesquisa realizada na Universidade Brigham Young (EUA).
Katie Liljenquist coordenou a pesquisa, intitulada "O Cheiro da Virtude," que será publicada no próximo exemplar da revista Psychological Science. Segundo ela, os resultados terão implicação direta para locais de trabalho, lojas e outras organizações, que sempre se basearam em câmeras de vigilância e guardas para lidar com a segurança e garantir que as regras em seu interior sejam obedecidas.
"As empresas frequentemente usam intervenções rígidas para regulamentar o comportamento em suas dependências, mas estas medidas são caras e geralmente opressivas," diz ela. "O cheiro de limpeza é uma técnica muito mais simples de incentivar o comportamento ético." Talvez as descobertas possam ser aplicadas em casa também. "Pode ser que fazer as crianças limparem seus quartos as ajude a limpar suas ações também," diz Katie.

O primeiro experimento avaliou a lealdade e a justiça. Para avaliar se o cheiro de limpeza melhoraria a reciprocidade, os voluntários participaram de um "jogo da verdade" clássico. Cada um recebeu $12 de dinheiro real, sendo-lhes dito que o dinheiro havia sido doado por um parceiro anônimo que estava em outra sala.
Eles tinham que decidir o quanto do dinheiro queriam manter para si mesmos e quanto queriam enviar de volta para os colegas da sala de onde veio o presente. Os participantes que estavam em salas limpas e perfumadas retornaram parcelas significativamente maiores do dinheiro.
A média de dinheiro devolvido pelos participantes da sala com cheiro "normal" foi de $2,81. Na sala com cheiro de limpeza, a média de devolução foi de $5,33.

O segundo experimento avaliou se o cheiro de limpeza iria encorajar o comportamento caridoso. Os voluntários tinham que manifestar interesse em trabalhar como voluntários ou em doar dinheiro para uma organização da Universidade voltada para melhorar o bem-estar e a convivência. Os participantes da sala cheirosa se mostraram mais propensos a trabalhar como voluntários - 4,21 em uma escala de 7 pontos. Na sala normal, o índice foi de 3,29.
Na disposição de doar dinheiro, os resultados foram de 22% na sala com cheiro de limpeza e apenas 6% na sala comum. No final do experimento, todos os estudantes tiveram que relatar aspectos do ambiente em que se encontravam. Mas nenhum deles relatou ter percebido o cheiro de limpeza.

Os pesquisadores sabem há muito tempo que os cheiros desempenham um papel ativo para reviver emoções positivas e negativas. Agora, essa pesquisa vem oferecer mais informações sobre a conexão entre as ações caridosas das pessoas e o ambiente em que se encontram. Os pesquisadores agora vão começar a estudar como a percepção de limpeza influencia as impressões sobre outras pessoas e organizações. Os dados contam uma história interessante sobre como nos baseamos em impressões de limpeza para fazermos vários tipos de julgamentos sobre os outros.
Cresce interesse da ciência pela felicidade, diz antropóloga
Somente nos últimos seis meses, foram divulgados 27.335 estudos e artigos publicados em revistas científicas abordando de aspectos bioquímicos até aspectos psicológicos sobre felicidade, segundo a antropóloga e psicóloga Susan Andrews. Ela é responsável pela implantação no Brasil de programas baseados no conceito da Felicidade Interna Bruta (FIB), disse que o interesse da ciência pela felicidade é crescente.
Com base nesses estudos, Susan afirmou que pessoas mais felizes têm sistemas imunológicos mais fortes, têm melhor desempenho no trabalho, adoecem menos, vivem mais e têm casamentos mais sólidos. A depressão se tornou uma das principais doenças da sociedade contemporânea. São esses os principais fatores que têm motivado a investigação científica, uma vez que um maior conhecimento sobre o que constitui a felicidade e como medi-la permitirá construir políticas mais eficientes com reflexos positivos sobre a saúde pública.

A antropóloga participou da 5ª Conferência Internacional sobre Felicidade Interna Bruta que discutiu o conceito que surgiu no Butão, na Ásia, de medir o bem-estar de forma mais ampla do que o Produto Interno Bruto (PIB), comumente utilizado para mensurar o progresso material de um país. A ideia tem a adesão de vários países, que se utilizam de alguns indicadores para orientar a elaboração de políticas públicas.

Susan explicou que, na bioquímica do corpo humano, uma das substâncias associadas à felicidade é o hormônio cortisol, produzido pelas glândulas suprarrenais. Pessoas felizes tendem a ter 32% menos cortisol. Em contrapartida, o hormônio é encontrado em abundância em pessoas com alto nível de estresse. É preciso ter consciência de que quando uma pessoa está infeliz, seu fígado está infeliz, seu estômago está infeliz, sua pele está infeliz. Os reflexos negativos se espalham pelo corpo inteiro.

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E então, que tal começarmos a considerar com mais deferência a "dimensão humana"?

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