sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Comunicação e controle através do pensamento

Na semana passada, conversava com meus alunos de Design sobre o crescimento exponencial previsto para os mundos virtuais até 2012, quando um deles perguntou se eu conhecia o Project Natal do XBox. Ao responder afirmativamente, percebi que a maioria da turma não tinha a menor idéia do que estavamos falando (surpreendente, visto a idade e o gosto por videogames) e então começamos a explicar, para alvoroço geral.

Encerrei o papo, antes de voltar à aula propriamente dita, apontando que o grande diferencial (e fonte de estímulo) se dará quando formos capazes de receber um biofeedback das ações do avatar, ou seja, respostas sensoriais além da visão e da audição. As inovações a seguir ainda não tocam neste campo, mas tangenciam-no de alguma forma, tornando mais próximo o momento em que viveremos uma imersão mais intensa, a "la Matrix".

Demonstrada comunicação cérebro a cérebro usando o pensamento
Cientistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, demonstraram que é possível a comunicação entre duas pessoas utilizando apenas os impulsos cerebrais, sem nenhum outro tipo de interação.

As interfaces cérebro-computador já não são nenhuma novidade, sendo utilizadas para o controle de computadores, robôs, sistemas de realidade virtual e até de cadeiras de rodas. Mas o que a equipe do professor Christopher James desenvolveu agora é uma interface cérebro-cérebro, ainda que a conexão seja mediada por computadores.

No experimento, uma pessoa utiliza uma interface cérebro-computador tradicional, na qual eletrodos colados sobre seu crânio capturam os sinais cerebrais e os traduzem em dígitos na tela do computador.
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A seguir, o programa envia os sinais captados para um outro computador, via Internet. Este computador recebe os sinais e os transforma em pulsos elétricos que fazem piscar um pequeno conjunto de LEDs. Essas piscadelas são captadas pelo equipamento ligado ao cérebro do segundo participante, que decifra a mensagem.

A demonstração consistiu na transmissão de quatro algarismos - 1011. Um aparelho de eletroencefalograma ligado ao usuário transmissor captura os dígitos conforme ele pensa em mover seu braço - pensar em mover o braço esquerdo gera um dígito 0, enquanto pensar em mover o braço direito gera um dígito 1.
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Não há movimento efetivo, apenas a intenção é suficiente para gerar os sinais no aparelho de eletroencefalograma. Esses sinais são enviados ao computador, que os decodifica e os transmite automaticamente para o segundo computador.
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O computador receptor recebe os dígitos e faz o conjunto de LEDs piscarem. As piscadelas são sutis demais para que possam ser detectadas e interpretadas conscientemente pelos olhos do usuário receptor. Mas são fortes o bastante para interferirem com os eletrodos que estão monitorando seu córtex visual. Detectando as alterações no cérebro do usuário receptor por meio desses eletrodos, o programa de seu computador interpreta os sinais recebidos e os imprime na tela.

Não se trata, pelo menos não ainda, da transmissão de pensamentos, mas da utilização da interpretação dos sentidos atuando no cérebro, mas o experimento demonstra uma real comunicação entre dois cérebros e abre campo para diversas aplicações, desde auxiliar pessoas com deficiências motoras a se comunicarem até utilizar a tecnologia para jogos ou até mesmo para a navegação na Internet.

Em paralelo, um outro grupo de pesquisadores, coordenados pelo Dr. Juan López Coronado, da Universidade Politécnica de Cartagena, na Espanha, está desenvolvendo um sensor que seja capaz de interpretar intencionalidades básicas do pensamento humano e de interpretá-los à distância.

Com isso, pessoas com deficiências físicas e neurológicas poderão controlar equipamentos robotizados sem a necessidade da inserção física de sensores em seus corpos ou mesmo da colagem de sensores diretamente na cabeça. Se cruzarmos essa tecnologia com a apresentada no início do post, será criado um upgrade na comunicação "mental" entre dois ou mais indivíduos.

O conjunto de sensores sem fios pode ser instalado em um boné ou outra peça de roupa dotada de conexões elétricas, conhecidas pelo conceito de roupas inteligentes e que devem ganhar cada vez mais espaço nos próximos anos. Com isso, é possível decodificar a intencionalidade da pessoa enquanto que algoritmos de computador capturam os sinais elétricos dos sensores e interpretam os aspectos básicos do pensamento humano ligados à coordenação motora. Um exemplo prático do uso desta tecnologia seria a possibilidade de duas pessoas cegas se aproximar uma da outra e cumprimentarem-se naturalmente.

E então, designers? Que inovações poderemos criar usando essas novas tecnologias?

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