terça-feira, 25 de agosto de 2009

Livro Eletrônico - parte quatro: Escrevendo no celular


Essa matéria não é recente, mas além de dar continuidade à nossa série de reportagens sobre Livros Eletrônicos, fala de uma inovação que está ao alcance de todos. Claro que escritores “convencionais” podem torcer o nariz – e até dou razão – pois escrever no celular é algo bem desconfortável, mas o que quero mostrar aqui é que tudo que puder ser usado para incentivar a produção literária deve ser visto com bons olhos. Vejamos como foi que aconteceu no Japão.

Na Terra do Sol Nascente, romances escritos e publicados em celulares – geralmente por mulheres jovens dotadas de dedos muito ágeis e lidos por fãs nas minúsculas telas de seus aparelhos - não eram muito respeitados. Porém, as listas de best sellers japoneses do final do ano de 2007 demonstraram que romances escritos para celulares e publicados em forma de livro haviam não só encontrado espaço no mercado de literatura como pareciam dominá-lo.

A lista mostrou, para espanto do mercado editorial, que dos 10 livros mais vendidos no país em 2007, cinco foram escritos originalmente para celulares. A maior parte composta por histórias de amor, redigidas em frases curtas que caracterizam as mensagens de texto e contendo pouco de semelhante ao desenvolvimento de trama e personagens encontrados nos romances convencionais.

Dos cinco outros livros mais vendidos, os três primeiros foram por romancistas estreantes, o que provocou uma balbúrdia de debates na mídia e nos blogs do Japão. Um destes questionamentos, que é totalmente previsível, mas eu considero prá lá de idiota foi a frase: "Será que os romances de celular matarão 'o escritor'?". Claro que tinha que vir da mídia convencional, usuária contumaz de polêmicas e desgraças ao invés de suscitar debates inteligentes e que estimulem o crescimento humano.

Já os apreciadores da novidade consideram que os romances de celular são um novo gênero literário, consumido por uma geração cujos hábitos de leitura se formaram basicamente com os mangás. Se o governo japonês der a esta modalidade parte do incentivo que deu a mangás e animes como produtos de exportação e disseminadores da cultura do país (que estão levando 1% do PIB em investimentos, algo em torno de 650 bilhões de reais para criar 500 mil novos empregos nessas áreas até 2020), penso que teremos uma nova revolução a caminho. Coisa que nem nos sonhos dos mais otimistas vislumbramos ter aqui no Brasil.

Do outro lado da cerquinha, os críticos afirmam que o domínio dos romances de celular sobre o mercado apressará o declínio da literatura japonesa, devido à sua baixa qualidade literária. Quero fazer um parêntese aqui. Bem, crítico é aquilo que todo mundo sabe: um indivíduo que não chegou a obter sucesso como profissional de uma área, mas que aparentemente a conhece bem e então ganha a vida metendo o malho no trabalho dos outros.
Claro que há exceções, mas como o próprio nome diz, são exceções. Tal qual a mídia tradicional, eles posam de gralhas barulhentas, prevendo futuros sombrios, mas o mundo continua andando prá frente, movido por aqueles que inovam e lutam por implementar suas idéias.

E a prova disso são que as romancistas-celulares (neologismo de minha lavra) estão registrando vendas que a maioria dos escritores convencionais não conseguem obter. Uma dessas estrelas é a jovem Rin, de 21 anos, que escreveu o romance "Se Você" em seis meses, durante seu último ano no ensino médio.
Ela criava a sua obra no trem, a caminho do emprego de tempo parcial ou durante qualquer momento livre e depois o subia a um site de aspirantes à literatura. Graças ao sucesso junto aos leitores do site, a obra foi convertida em um livro impresso, com 142 páginas. Agora o melhor: logo após o lançamento, as vendas chegaram a 400 mil cópias, o que fez de seu romance o quinto mais vendido no ano de 2007.

Uma pequena pausa para vossa reflexão. Em breve voltaremos ao assunto.

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Martelada do Dia: Você tem celular? Gosta de escrever? E de ganhar dinheiro? Preciso dizer mais alguma coisa?


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