terça-feira, 1 de junho de 2010

Série Especial - Lost in Lost (02): Lost é a televisão pensada fora da caixa

Dando sequência a esta nova série especial, que vai apresentar matérias e comentários diversos sobre o seriado que mudou o paradigma da tv aberta e ainda, de lambuja (êta, que tinha tempo que não ouvia essa palavra!) estimulou a disseminação de conteúdo via torrent e o surgimento/aprimoramento dos grupos de "legenders" e fãs de legendas.

A intenção é seguirmos semanalmente até o lançamento do DVD da última temporada, onde nos "extras" o autor da maluquice, o "sandice maker" J.J. Abrahams, vai nos oferecer mais vinte minutinhos de explicações.

Hoje, vamos ver o que diz um outro gurú, Henry Jenkins, sobre Lost:


Lost é a televisão pensada fora da caixa
"American Idol" e "Survivor" são alguns dos programas que você cita em "Cultura da Convergência" para falar da nova relação do público com a informação. Que outros exemplos relevantes apareceram recentemente?

HENRY JENKINS: Se estivesse escrevendo o livro hoje, eu poderia ter capítulos focando em "Lost", "Glee", "Avatar" e "Distrito 9", cada um representando uma maneira diferente de pensar a relação da mídia com seus consumidores. Sob um aspecto, "Lost" representa um dos maiores hits da TV comercial contemporânea. É televisão-espetáculo numa escala global. Por outro lado, "Lost" tem todas as características que teríamos associado à televisão de nicho uma década atrás.

É um programa complexo e que exige compromisso do telespectador. "Lost" desafia o conhecimento coletivo, com redes sociais de larga escala onde pessoas dividem seu conhecimento, comparam notas e tentam desvendar os mistérios da ilha. Elas acompanham "Lost" com podcasts, sites, projetos wiki, jogos de realidade alternativa e inúmeras outras plataformas. "Lost" é a TV pensada fora da caixa.

E "Glee", "Distrito 9"...

JENKINS:
Cada um dos outros exemplos representa o movimento da TV em direção a um mundo transmídia e participativo. Podemos encarar "Glee" como um veículo para vender música - nesse sentido, bem parecido com "Rock Band" e "Guitar Hero" - mas também como uma inspiração para várias performances amadoras. Pouco depois da exibição dos episódios, elas pipocam no YouTube.

Em relação a "Avatar", estou interessado, claro, no 3D, mas também na forma como ativistas do mundo todo abraçaram a identidade dos Na'vi e sua luta como uma linguagem através da qual falam das suas próprias disputas locais para proteger seus ambientes e estilos de vida. Sobre "Distrito 9", me interessa a maneira como um filme de escala menor ganhou tanto interesse por parte do público, e isso aconteceu graças a estratégias que se basearam no uso de redes sociais.

Há dez anos, no Brasil e fora dele, crianças e jovens não conseguiam se sentir atraídos por seus colégios. Agora, com a relação deles com a tecnologia e a internet, é dez vezes pior. Você acha que o mundo está enfrentando esse problema de maneira apropriada?

JENKINS: Dou aulas de Novas Literaturas Midiáticas, e uma de minhas atribuições é fazer com que os alunos entrevistem um estudante ou professor que eles conheçam. Meus estudantes vêm do mundo todo e, como tendem a entrevistar pessoas de suas famílias, vejo projetos sobre gente que vive em lugares muito diferentes. Quase sem exceção, todos os jovens que eles entrevistam têm uma vida intelectual mais rica fora da escola do que dentro. As coisas sobre as quais se importam, que provocam sua curiosidade e paixão, são tópicos que não têm lugar na atual configuração da educação.

Como as escolas, muitas empresas que contratam jovens não estão preparadas para as mudanças que estão acontecendo. Como isso afeta a juventude? Os jovens vão tentar se adaptar ou procurarão novos tipos de trabalhos?

JENKINS: Nossos jovens têm muito mais para dar ao mundo do que lhes é permitido. Quando lemos matérias sobre fãs desenvolvendo material on-line de referência sobre "Lost", por exemplo, há sempre alguém para dizer que eles têm muito tempo em suas mãos. Não gostaria de subestimar o valor dessa produção, mas também quero perguntar: de quem é a culpa? Essa atividade surge em um mundo que subestima a criatividade e o conhecimento. Como resultado, os jovens criam espaços alternativos onde podem aprender e compartilhar o que aprendem uns com os outros.

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Interessante, não? E o melhor é que essa discussão está apenas começando...

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