domingo, 15 de março de 2009

Sobre o ensino de Jogos Digitais no Brasil

No Brasil, o mercado de games é ainda muito pequeno, o que nos proporciona uma perspectiva de crescimento muito estimulante. A entrada da Ubisoft, em 2007, deu um novo alento e a sensação de que estamos finalmente começando a participar, de verdade, do mundo dos games.

No entanto, para que esta percepção se torne “real” será necessário fazer adaptações diversas e a primeira delas, na minha opinião, deve ocorrer no ambiente acadêmico. Via de regra, o que vemos pelo Brasil afora são cursos voltados para programação, como se um game se resumisse a um determinado número de linhas de código e uns gráficos bestas, como no passado. A parte mais importante, aquela que atrai e retém o jogador, é colocada em segundo plano, muitas vezes ensinada em apenas um semestre, de forma atabalhoada e por professores que não sabem o que estão fazendo.

Claro que meus colegas que têm o perfil “escova-bit” vão babar de raiva, mas é importante que se diga e repita que ninguém compra um jogo ou faz uma assinatura de um MMO por causa da engine Xonga 4 ou Brosha 7. Esses itens fazem parte do jogo, são importantes e devem funcionar a contento, mas o que realmente importa é a história, o visual, a jogabilidade. Quem aí comprou um carro devido ao tipo de liga metálica utilizada no motor? Ou pelo fato do freio ser ABS com reverberação turbo-magnética?

Pois é. O comprador se foca em outros assuntos relacionados ao objeto de desejo. Que o motor deve funcionar muito bem e os freios ainda melhor, é óbvio, não o argumento principal.

A razão deste post é a minha insatisfação com a academia brasileira no tocante ao ensino para jogos digitais. Segundo um profissional oriundo do mercado de jogos mundial, que agora se encontra no Brasil e pediu para não ser identificado, nenhuma instituição está formando profissionais com empregabilidade, apenas jovens com a cabeça entupida de informações que não estão relacionadas.

E que, diga-se de passagem, em muitos casos, foram ministradas por pessoas que não entendiam do que estavam falando ou pelo menos não conseguiam relacionar sua área de conhecimento com o perfil do profissional que estava sendo construído.

Resultado: estes petizes terão que esvaziar a cuca do monte de porcarias, tralhas e traquitanas oferecidas (não gratuitamente) pela academia e preenchê-la com conhecimentos adquiridos no ambiente de trabalho e em fontes alternativas à sala de aula (uma vergonha para quem cursou uma universidade!).

Um olhar para o mercado mundial, aquele que é de verdade, que arrecada bilhões de dólares por ano et cetera et al, revela um alto grau de especialização em áreas muito diversas da programação. Isso significa: gente que sabe muito bem o que está fazendo dentro das suas atribuições profissionais.

Não existe espaço decente para o pirangueiro, aquele que improvisa com band-aid e chiclete mascado e ainda trabalha de noite no circo chinês, equilibrando uma porção de pratos em varetas de bambu. Claro que, neste momento, não podemos adotar uma política idêntica para o mercado brasileiro, até porque não temos ainda um mercado (somos, no máximo, uma quitandinha), mas esta situação precisa mudar o mais rápido possível.

Logo, quem educa (aí incluídos professores e instituições) deve se preocupar com a formação do profissional de um futuro bem próximo, aquele que está logo ali, virando a esquina e não se ater aos modelos mambembes e confusos que por ventura sejam hoje praticados.

Em 2007, durante o SBGames que rolou no paradisíaco campus da Unisinos, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, tive a oportunidade de conversar com os coordenadores do curso de games da Feevale, de Novo Hamburgo, e soube que o mesmo estaria ligado ao curso de Comunicação Social, algo inédito no Brasil.

O objetivo seria formar um profissional de Comunicação com especialização em ambientes de jogos digitais online. Isso demonstra uma percepção mais atenta e focada nos potenciais destes ambientes, onde publicidade e comunicação podem ser utilizados para gerar receita, atrair e reter clientes e sabe-se lá mais quantas outras aplicações.

Torci para que o exemplo fosse seguido mas até agora, um ano e meio depois, só se escuta o saci pulando na mata.

Se a TV Digital vai, um dia, permitir a navegação pela web e esta se tornará 3D, a vantagem de um profissional formado neste tipo de ambiente sobre os que só lidam com o mundo físico será evidente. O mesmo raciocínio aplica-se a outras profissões, como o design e a arquitetura, por exemplo. Já pararam para pensar que os websites deixarão de ser “folhas de papel digital” para virar construções/ambientes tridimensionais?

O que você acha de ter um website 3D em estilo art nouveau? Que tal algo inspirado em Alphonse Mucha? Gosta do visual da mansão Wayne do seriado do Batman de 1966? Muito bem, seu site pode ser igualzinho, com estante que corre para revelar a passagem secreta, batposte e até uma caverna com reator atômico e carro com turbina. Prefere o castelo da Bela Adormecida? A cidade de Gondor? No problem!

A realização de sonhos vai ser o mote, as possibilidades geradas pelas ferramentas tecnológicas de HOJE já permitem fazer coisas incríveis, imaginem daqui a alguns poucos anos. Baseado nestas possibilidades, como será o webdesigner da próxima década? Ainda vai ficar estudando HTML e escrevendo no bloco de notas, como eu escuto certos professores escova-bits defenderem? Ou será um profissional (melhor dizendo, grupo de profissionais) com acesso a diversas áreas do conhecimento para poder atender à demanda de seu cliente?

Pensem nisso, prezados leitores. Eu não sou o Nostradamus e não estou prevendo para daqui a 500 anos (como alegam alguns pesquisadores do delirante francês), mas para daqui a 2, 5 ou 10 anos.

Em breve eu volto a falar deste assunto.

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