segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Série Especial - Brasil, o País do Presente (37): Nanotecnologia brasileira reduz efeitos colaterais da quimioterapia


Essa proposta de publicar uma notícia desta série todos os dias do mês de setembro tem rendido bastante, pois muita gente tem se revelado impressionada com a quantidade de coisas bacanas que produzimos por aqui e que ninguém fica sabendo. Então, vamos a mais uma maravilha genuinamente brasileira!


Nanotecnologia brasileira reduz efeitos colaterais da quimioterapia


Uma linha de pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP estuda o uso de novos métodos para aplicação de medicamentos pela pele, em particular na quimioterapia contra o câncer de pele.

Os pesquisadores, liderados pela professora Renata Fonseca Vianna Lopez, encapsularam a droga quimioterápica doxorrubicina em pequenas partículas de gordura (chamadas nanopartículas lipídicas sólidas). A seguir eles testaram a iontoforese, técnica que envolve a aplicação, próxima à pele, de uma corrente elétrica de baixa intensidade para aumentar a entrada da droga.

Os resultados, segundo Renata, foram animadores, já que a droga chegou em doses seis vezes maiores até as camadas profundas.

Em estudos em cultura de células cancerosas, os pesquisadores observaram ainda que a associação iontoforese-nanopartícula aumentou não só a entrada da droga na pele, mas também sua entrada dentro das células tumorais, matando assim mais células doentes.

A pele é o nosso órgão mais extenso, cobrindo em média dois metros quadrados de superfície. Uma das funções de sua camada externa, chamada de estrato córneo, é justamente limitar a absorção de substâncias tóxicas do ambiente, além de manter estáveis a temperatura e a quantidade de água no organismo. Mas esta barreira pouco penetrável transforma-se em um problema quando a intenção é fazer dela uma via para aplicação de medicamentos.

Coordenadora dos estudos, a professora Renata Fonseca Vianna Lopez explica que a administração por via endovenosa da droga doxorrubicina, por exemplo, tem que ser feita em altas doses para que o tumor seja atingido, o que provoca muitos efeitos adversos, principalmente no sistema cardíaco do paciente. O tratamento tópico, por sua vez, levaria o fármaco diretamente ao carcinoma, e deste modo seriam necessárias doses menores.

Assim, a professora Renata e sua equipe - que inclui alunos de pós-graduação da FCFRP - utilizaram em laboratório a iontoforese, técnica já conhecida, utilizada no tratamento da hiperidrose (suor excessivo), na administração de anestésicos locais, e na pesquisa de transdérmicos envolvendo substâncias diversas.

Na iontoforese, a corrente elétrica é fornecida por uma bateria e distribuída através da solução que contém a droga com o auxílio de um eletrodo positivo e um negativo. A penetração da substância de interesse pode ocorrer de duas maneiras: por eletrorrepulsão e por eletrosmose. Na eletrorrepulsão os íons positivos da droga são repelidos no eletrodo positivo quando a corrente elétrica é aplicada e, por conseguinte, são empurrados para dentro da pele. Já a eletrosmose é o fluxo de líquido que ocorre durante a iontoforese, que auxilia na penetração de substâncias neutras (sem carga) e de alta massa molecular.

Porém, no caso da doxorrubicina, mesmo com a aplicação da corrente, o medicamento ainda ficava interagindo no estrato córneo, e não ia completamente para as camadas mais profundas da pele, onde se localizam as células cancerosas. Foi então que os pesquisadores tiveram a ideia de encapsular a droga em pequenas partículas de gordura. Dispositivo iontofóretico modelo "E-Trans", da marca Alza

A explicação para o bom resultado com as nanopartículas ainda está sendo investigada em outros estudos, dentro da mesma linha de pesquisa. Uma das razões cogitadas é o fato de elas protegerem o fármaco do contato direto com o estrato córneo, diminuindo a interação da droga com essa camada da pele. E a iontoforese atuaria forçando a entrada dessas partículas para camadas mais profundas, carreando o medicamento para o local desejado.

Um outro método para aumentar a penetração de substâncias na pele estudado pela docente, em pós-doutorado realizado no Massaschussets Institute of Technology (MIT), envolve a aplicação simultânea de ultrassom e de um composto tensoativo (substância que influencia na superfície de contato entre dois líquidos) na pele.

Este pré-tratamento, feito antes da aplicação da droga, altera o estrato córneo e facilita a penetração de substâncias. A pesquisadora verificou, juntamente com o grupo dos professores Robert Langer e Daniel Blankschtein, ambos do MIT, que o método consegue fazer com que nanopartículas rígidas cheguem a camadas bem profundas da pele, podendo até atingir a circulação.

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